Por Thiago Picanço
A pauta da semana é o enfraquecimento dos acordos, alianças e organizações multilaterais. O movimento tem acontecido em diversas frentes: de defesa a comércio e clima.
No âmbito da defesa, líderes globais estão reunidos em Londres para o aniversário de 70 anos da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). A OTAN foi formada em 1949 como um bloco militar para deter ações soviéticas, mas desde o colapso da URSS em 1991 ela vem, no entanto, encontrando dificuldades em definir um propósito para sua existência. Com isso, poucos dos países do grupo hoje cumprem a meta de gastos de 2% do PIB em defesa, com os EUA compensando boa parte do grupo e pressionando seus aliados por alguma compensação. Com a falta de um propósito claro, membros pouco dispostos a financiá-la e cada vez mais em desacordo entre si, a OTAN tem um futuro bastante incerto.
No campo comercial, no dia 10 de dezembro 2 dos 3 juízes do Órgão de Apelação (OA) da OMC (Organização Mundial do Comércio), que avaliam recursos em disputas comerciais e autorizam sanções contra infratores, se aposentarão. Isso não seria problema normalmente, mas o atual bloqueio americano a novas nomeações significa que eles não serão substituídos, e com apenas 1 juiz restante, ele não poderá mais ouvir novos casos. A reclamação americana vem de alegações de que as disputas no órgão estavam levando tempo demais e indo além do escopo contratado. A OMC é uma das organizações mais abrangentes do mundo, com 164 países membros e cobrindo 96% do comércio global, mas também tem se provado bastante frágil nesta nova era de protecionismo.
Na esfera climática, nesta segunda-feira começou em Madri a COP25, Conferência do Clima das Nações Unidas (ONU). Na semana passada um novo relatório da própria ONU reportou que a meta de temperatura do Acordo de Paris (até 1,5ºC acima da era pré-industrial) é virtualmente impossível de ser alcançada. Para ser atingida, as emissões globais teriam que cair 55% entre hoje e 2030. Com a saída dos EUA do acordo de Paris e com os países em desenvolvimento pouco interessados em abrir mão de crescimento para bater as metas climáticas, essa se tornou mais uma frente multilateral de desentendimento na diplomacia global. Com pouca influência sobre as decisões dos governantes de cada país, a conferência deve focar no mercado de direitos de carbono e em iniciativas de compensação com reflorestamento.
Para a gestão de investimentos, o que tudo isso significa é que as relações globais se tornarão mais imprevisíveis e controversas, adicionando volatilidade esperada aos mercados.