Por Ilan Ryfer
Uma frase muito comum que se escuta no mercado financeiro é que não existe almoço grátis (numa tradução literal do inglês “There is no free lunch!”). Significa que não se obtém nada sem dar algo em troca. A expressão provavelmente remonta da prática no século XIX de bares americanos que ofereciam petiscos aos clientes para que esses consumissem mais bebidas. A maior parte dos petiscos oferecidos eram salgados e causavam sede.
Não existe almoço grátis é uma frase que serve para qualquer campo de atividade e mesmo para a vida. No campo financeiro, muitas vezes, essa expressão faz referência ao custo de oportunidade. Toda vez que fazemos um investimento, no mínimo deixamos de ganhar os juros da aplicação do capital em títulos do governo. Muitas pessoas esquecem de fazer essa conta.
Exemplificando:
Um investidor imobiliário compra um apartamento por 100 e deixa alugado, recebendo 5 de aluguel ao ano. Após 5 anos ele vende o apartamento por 125.
Preço de Compra do Apart. | Aluguel (ano) | Preço de venda após 5 anos |
100 | 5 | 125 |
Na conta simplista desse investidor o ganho foi de 50% em 5 anos. Em uma conta rápida, foram 125 da venda do apartamento somado aos 25 do aluguel anual dividido por 100 que foi o preço de compra do apartamento (desconsiderando impostos e reinvestimento do aluguel).
Venda do apartamento após 5 anos | Aluguel durante os 5 anos | Preço pago pelo apartamento | Conta | Resultado |
125 | 25 | 100 | (125 + 25)/100 | 50% |
E realmente o ganho foi esse.
Mas, se os juros do período tivessem sido 10% ao ano, por exemplo, o ganho acumulado seria 60% (sem considerar impostos e assumindo juros compostos). E sem a chateação de inquilino, sem manutenção do imóvel, com liquidez imediata e com risco muito menor!
O exemplo acima nos leva ao segundo custo que os investidores financeiros normalmente esquecem: o risco! A regra geral de investimentos é que maiores retornos potenciais vêm acompanhados de maior risco. E risco pode ser medido de diversas formas. O entendimento prático mais útil é a probabilidade de não atingir o retorno esperado, numa intepretação ampla, e de perder dinheiro, numa interpretação mais restrita. Investir em títulos do governo federal é entendido como menos arriscado do que investir em imóveis (sei que vários leitores irão discordar, e realmente é debatível). Se isso é verdade, investir em imóveis deveria ser mais rentável que investir em títulos públicos. Mas muitas vezes os investidores esquecem desse componente, focando única e exclusivamente no retorno.
Recapitulando, o objetivo de obter maiores retornos cobra dos investidores dois custos: maior risco e custo de oportunidade. Por isso se diz que não existe almoço grátis no mercado financeiro. Se quiser aumentar seus retornos, você tem de estar disposto a abrir mão de algo, que pode ser liquidez ou investimentos em ativos mais conservadores.
Mas será que realmente não existe nenhum almoço grátis??? Para nossa sorte, existe sim! Se chama diversificação.
Talvez já tenham ouvido a frase “não coloque todos os ovos na mesma cesta”. O conceito de diversificação é exatamente o de não apostar todas as suas fichas num único investimento. Mas diversificar não significa escolher vários investimentos de forma aleatória. Existe técnica para fazer isso. Voltando aos ovos e cestas é mais ou menos como pensar em três cenários.
Cenário 1 | Cenário 2 | Cenário 3 |
Você tem 10 ovos e coloca todos na mesma cesta e anda 1km para chegar na cidade para vendê-los. | Você divide os ovos em dois cestos e você mesmo carrega os dois para a cidade. | Você divide em dois cestos e duas pessoas diferentes carregam cada um dos cestos para a cidade. |
Qual dos cenários têm menos risco de todos os ovos chegarem quebrados na cidade? Note que a pergunta é em relação a você perder todos os ovos e não de ter algum dos ovos quebrados.
A diversificação é uma técnica usada em mercado financeiro para reduzir o risco, mas incrivelmente, e para a nossa sorte, não tem como contrapartida a redução do retorno potencial do portfólio! Isso porque vários investimentos têm comportamentos diferentes uns dos outros. Uns sobem em momentos de crescimento econômico e caem em recessões, enquanto outros têm retorno positivo exatamente nas recessões.
A diversificação permite combinar dois (ou mais) ativos de alto retorno e alto risco e obter uma carteira de alto retorno esperado e baixo risco (ou pelo menos menor que o dos ativos individualmente).
Não cabe nesse texto explicar a matemática por trás desse efeito, mas ele existe e é muito útil na construção de carteiras. E produz portfólios de retorno potencial alto com riscos reduzidos. Parafraseando um comercial antigo: isso não é magia, é tecnologia! E isso é almoço grátis!