Por Thiago Picanço
A pauta internacional da semana é a forte valorização das ações da Tesla, fabricante americana de carros elétricos comandada por Elon Musk.
A Tesla já dobrou de valor em 2020, e se tornou, nesta terça-feira, a empresa automobilística mais valiosa da história dos Estados Unidos, com um valor de mercado na casa dos 160 bilhões de dólares. A empresa é também a segunda mais valiosa do mundo hoje no setor, atrás apenas da japonesa Toyota, e já vale mais que Volkswagen e Daimler juntas e que GM, Ford e Fiat Chrysler juntas.
É difícil justificar uma alta tão forte em tão pouco tempo: a ação da Tesla era negociada a 180 dólares em junho de 2019 e hoje é negociada a 890 dólares, uma alta de quase 400% em apenas 8 meses. Quando vemos movimentos tão exuberantes quanto este sempre nos perguntamos que tipo de dinâmica de mercado pode o estar causando. Consideramos inicialmente duas hipóteses:
1 – Melhora de fundamento: a empresa reportou resultado ligeiramente positivo no último trimestre, porém longe de justificar integralmente o que ocorreu no preço das ações. Os números de produção ainda são muito pequenos, e é difícil de justificar fundamentalmente o valuation da empresa sem projetar um cenário nada menos que espetacular para seu crescimento futuro.
2 – Short Squeeze: números de mercado (via Bloomberg) mostram que pouco mudou nas últimas semanas no posicionamento dos investidores “vendidos”, enfraquecendo a tese.
Insatisfeitos com a performance das duas hipóteses iniciais, identificamos uma possível resposta alternativa nos movimentos recentes dos pequenos investidores americanos.
Em termos de valorização, vimos em 2018 movimentos similares ocorrerem tanto com Bitcoins quanto em ações relacionadas a Cannabis: uma forte performance recente atraiu o investidor individual, que acabou comprando e fazendo o preço subir mais, atraindo outros investidores individuais com medo de ficar de fora.
Vemos evidência deste movimento no grande aumento no número de investidores individuais comprados na ação da Tesla (informação via dados de corretoras americanas), nas menções à empresa nas redes sociais (via Twitter), no número de pesquisas sobre o preço da ação (via Google), e na cobertura geral da mídia não especializada sobre o caso (TV, Youtube, Newsletters, etc).
A ação da Tesla (não a empresa Tesla, e esta diferença é bem importante!) se tornou a mais nova promessa de retornos impressionantes para o pequeno investidor, e o medo de perder esta oportunidade tem feito cada vez mais gente comprar, num ciclo vicioso em que o preço da ação não para de subir e as pessoas não param de querer comprar mais.
Lembramos que é muito complicado apostar contra uma empresa que tem um excelente produto num mercado que cresce com ótimas perspectivas, mas acompanhamos com curiosidade o andamento desta história.